Hoje eu quis tomar café
Não sou um dos maiores amantes de café, mas definitivamente não o odeio. Sou daqueles que só o toma de manhã, para iniciar o dia com ânimo e energia, mas hoje foi diferente.
Já é o começo da tarde, estou voltando para casa quando me deparo, como sempre, com um desses "cafés de go" no meu caminho. Passo por ele todos os dias, e em nenhum deles me sinto tentado a entrar para comprar uma xícara - ou um copo nesse caso - como disse sou daqueles que só o toma de forma ritualística a manhã, mas hoje...
Ainda não sei o por que, mas minha vontade se tornou mais forte que a tradição, e não consigo parar de encarar as duas pessoas que estão sentadas dentro deste café, com um nas mãos.
Penso seriamente se devo ou não entrar e comprar um, seja do que for, mas sou muito mão de vaca para isso.
É aí que me vem a idéia, por que não fazer isso em casa?
Claro que a sensação de estar em um desses "spots" de café, e de se sentar para observar as pessoas não existe e é impossível de se reproduzir em casa. Mas nada me impede.
Tomo a caminhar novamente, em direção ao meu ônibus, que quase perco devido a esse meu momento de reflexão sobre o bendito café. Mas nada que uma pequena corrida não resolvesse.
A viagem que normalmente é banal, se tornou levemente incômoda. Eu quero muito um café.
Estando em casa, rapidamente me troco e vou a busca de minha querida xícara quadrada. Ainda há café sobrando de quando fiz na manhã, o que me alivia pois eu estava com uma tremenda preguiça de coar mais.
Minha xícara está cheia, e aquela maravilhosa fumacinha sobe até o nariz, tudo parece resolvido, mas ainda falta algo.
Eu preciso ver algo, alguma coisa. Não consigo tirar o ponto de café de mais cedo da minha cabeça, de como seria a sensação de estar lá agora, sentar a observar o movimento de fora enquanto bebo meu recém feito cafézinho.
Aqui não tem pessoas, e meu café é uma sobra do que já fora coado.
Nunca admirei muito a idéia desses pequenos locais de cafés, mas hoje...
Pela falta do "cenário perfeito de um café go" vou para a varanda, e tomo a olhar o formigueiro no quintal. De certa forma, as pequeninas me recordam das pessoas caminhando pelas calçadas em suas rotinas de sempre.
Não chega nem um pouco perto de me consolar, ainda queria ter feito a escolha de tomar um café naquele spot antes de vir para casa.
Acho que agora eu entendo o amor das pessoas por esses lugares, e pela bela experiência que pode ser tomar um café, mesmo no caos do dia a dia do centro da cidade.
Pelo menos a minha bicha por uma xícara foi embora.
